Gravando com Estilo e Personalidade: Joe Meek… Antes de Beatles e Rolling Stones.

Pouco conhecido no Brasil, Joe Meek, um dos nomes mais icônicos e emblemáticos, produtor e compositor de música pop do nosso tempo, responsável pelo primeiro sucesso pop britânico nos USA, Telstar com The Tornados de 1962, bem antes que Beatles e Rolling Stones.

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Robert George “Joe” Meek nasceu em 5 Abril de 1929 em Newent, Gloucestershire; morreu de forma trágica 3 de fevereiro de 1967 em Londres.

Muitas celebridades foram gravados por ele ou passaram pelo seu estúdio na 304 Holloway Road, entre eles, Tom Jones (sob o nome de Tommy Scott), Rod Stewart, Ritchie Blackmore, Jimmy Page, Gene Vincent, incluindo entre outros Mitch Mitchell (que tornou baterista de Jimi Hendrix); David Bowie (ainda como Davy Jones), ainda como saxofonista da banda The Kon-Rads. Entre 1961 e 1964, a produtora de Meek R.G.M. A Sound Ltd. foi um dos principais endereços do pop da Grã-Bretanha. Com esta empresa, ele produziu alguns sucessos internacionalmente conhecidos até hoje; mais de 25 produções de Meek alcançaram o Top 40 do Reino Unido.

RECORTE ENTREVISTA JORNAL

Joe Meek foi pioneiro na produção independente na Inglaterra, levando-se em conta que não é apenas o cantor, banda ou a música que contribui para o caminho do sucesso, é o som também. Meek foi o primeiro produtor musical europeu que conseguiu isso de forma mais completa e impactante. Ele usava seu estúdio de gravação como um instrumento musical e seguindo sua intuição genial, batendo de frente com os padrões estabelecidos para os engenheiros de som de seu país, especialmente a BBC, onde era tudo muito burocrático e abitolado, até o uso de jalecos nos principais estúdios. Com seu talento extraordinário, seu nomo merece estar no mesmo patamar do maiores produtores/engenheiros de gravação, como, Sam Phillips, Phil Spector, George Martin, Lee Hazlewood, Tom Wilson ou as equipes de estúdio “Motown” ou “Stax”; pois as produções de Meek são fáceis de identificar, tipo de compressão, efeitos entre outros truque e técnicas.

 

Estilo Joe Meek

April 1963 Telstars recording wizard Joe Meek at work in his bedroom studio at Camden Town-London - Photo by John Pratt Keystone Features Getty Images

Joe Meek trabalhando em seu estúdio “quarto” em 1963               Foto: John Pratt Keystone Features 

 

Suas gravações tem um som de contrabaixo bem destacado  e muita compressão, fazendo a música “pular” do alto-falante. Já os efeitos de reverberação e eco eram gerados artificialmente e bem característicos, curiosamente seu principal reverb, foi feito por ele com molas espirais de um antigo ventilador, dispositivo que ele não permitia ninguém mexer; também usava uma certa quantidade de overdriving nos vocais, além de acelerar os vocais algumas vezes.

O som de Meek é baseado principalmente em dois elementos: um som “básico” que se aplica a quase todas as gravações de Meek, e efeitos sonoros especiais individuais que ele adicionalmente pensou em muitas de suas gravações.

 

O Estúdio de Gravação

English instrumental pop group The Tornados (guitarists Alan Caddy (1940 - 2000) and George Bellamy, drummer Clem Cattini, keyboard player Roger Lavern and bass player Heinz Burt (1942 - 2000) with producer Joe Meek (1929 - 1967, centre) at Meek's studio in Holloway, London, circa 1962. The Tornados were the house band at the studio, and are best known for their hit with Meek's 'Telstar'. (Photo by John Pratt/Keystone/Hulton Archive/Getty Images) Joe Meek ao centro com The Tornados em 1962                   Foto: John Pratt/Keystone/Hulton Archive

Como visto na foto acima, a sala de gravação era pequena e o tratamento acústico basicamente feito com sofás e cortinas, por isso quase não tinha reverberação. Outra prática comum era abafar o kit de bateria com travesseiros ou cobertor para obter um som mais seco. Entre a sala de controle e a sala de gravação, não havia janela nem microfone de retorno, comum nos estúdios de gravação, Meek tinha que sair de uma sala para outra passando pelas duas portas para conversar com os músicos na sala de gravação.

 

Mandatory Credit: Photo by ANL/Shutterstock (1755456a) The Honeycombs Pop Group With Record Producer Joe Meek The Honeycombs Pop Group With Record Producer Joe Meek

                                            The Honeycombs                             Foto: ANL/Shutterstock

 

 

O Som de Meek

Com dois mixers Vortexion de quatro canais, Meek não precisava de um console de mixagem mais complexo, porque o som já era mixado durante a gravação e cada elemento tinha quase o mesmo nível na fita de rolo, sem muita variação dinâmica. Essa extrema compressão e limitação é uma marca de quase todas suas gravações, ele possuía compressores e limitadores Fairchild e Altec.

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 Mixer Vortexion igual ao usado por Joe Meek

 

Boa parte do som de Meek é consequência de seu equipamento de estúdio e da maneira como o usava. Ele possuía dois gravadores de duas pistas de alta qualidade: um Lyrec TR-16, um EMI TR-51, dois Vortexion WVB (estes usados principalmente para efeitos de eco e slapback) e um Ampex 351.

Para suas gravações, ele fazia o famoso “overdubbing” como muitos estúdios a exemplo do Abbey Road já vinham fazendo na época, gravava uma base depois algum outro instrumento, voz, reproduzia em um segundo gravador e assim por diante.

Os principais microfones de Meek eram dois Telefunken/Neumann U-47 para os vocais e vários microfones AKG e Reslo de características diferentes para instrumentos e outros sons.

“If it sounds right, it is right!”  

Uma das frases de Meek sobre a maneira de trabalhar, era, “Se soa bem, está certo!”. Pois seu som era contrário a quase toda lógica e forma de trabalhar que os estúdios britânicos tinham na época. Além disso, o som de Meek era incompatível com as regras e regulamentos de gravação de som que a BBC estabelecia. Eram regras determinadas e que quase todos os estúdios privados as cumpriam, já que a maioria dos engenheiros de som da época tiveram seu aprendizado na BBC.

Feita uma analise nos espectros de azimute e som das gravações de Meek, foi chegada à conclusão de que às vezes é difícil distinguir o que era efeito ou uma falha. O próprio Meek provavelmente teve que lidar com isso: várias vezes a fábrica de discos devolveu as fitas máster porque os técnicos consideravam a gravação defeituosa. Muitas vezes os graves intensos demais fazia o braço do toca-discos saltar para fora das trilhas do vinil.

Fazendo Escola 

Quando Telstar chegou ao topo das paradas de sucesso, o som de Meek, se tornou uma marca registrada, conhecida no cenário levando outros estúdios e gravadores a tentar imitar o som dele, mas poucos conseguiram.

Por trás de toda sua característica massa sonora, toda a compressão e todos os seus “truques”,  Meek tinha um som bem definido e econômico, suas gravações são livres de ruído de fundo e seu som maciço, mas transparente.

 

Fã Brasileiro

Espero que tenham gostado da postagem – se você chegou até aqui, caro leitor, já valeu apena ter dedicado um bom tempo pesquisando, estudando e coletando informações sobre Joe Meek – justamente por querer divulgar um pouco mais sobre este pioneiro em experimentos na gravação de música pop-rock em terras europeias, onde muito se fala de George Martin, Eddie Kramer mas pouco é dito sobre Meek que gravou no quarto de seu apartamento na 304 Holloway Road, com limitada tecnologia dos anos pós II Guerra, se comparada com a atual tecnologia. Sem dúvida o trabalho de Joe Meek tornou-se uma grande fonte de inspiração para mim não só como músico, produtor e técnico de gravação quando “quem não tem tu é tu mesmo” (risos), talvez eu seja o único fã dele no Brasil.

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